O pau que dá em chico dá em Francisco...

Condutores de São Paulo: a história verdadeira

Marcos Antonio
Expulso do sindicato por não concordar com a corrupção.
fiquem atentos nos próximos dias.

Fundado em 11 de novembro de 1933, o Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte de São Paulo tem uma longa história marcada por lutas, conquistas e hoje, infelizmente, por escândalos e corrupção. Um lado perverso da história desta categoria que, talvez, muitos, desconheçam e, que, agora, terão a oportunidade de conhecer.

Considerado o maior sindicato de transportes rodoviário da América Latina, com uma receita média mensal de R$ 1 milhão, o Sindicato representa cerca de 32 mil condutores e cobradores que trabalham em 29 garagens na cidade de São Paulo.

Os momentos de triunfo do Sindicato dos Motoristas iniciaram em 1988, quando foi comandado pela Central Única dos Trabalhadores. Na época, o país vivia uma grande crise econômica e São Paulo, a maior cidade do país e do mundo, era governada por Luiza Erundina, do então Partido dos Trabalhadores. Para os condutores, a gestão da então prefeita teve um significado especial: boa parte das suas reivindicações salariais, melhores condições e um transporte coletivo melhor foram atendidas.

Em março de 1989, outro momento inesquecível: em meio a uma crise de arrocho salarial, inflação alta e economia estagnada, o presidente do Brasil era José Sarney, a CUT e a CGT organizaram uma greve geral, que reuniu 35 mil trabalhadores. Os condutores de São Paulo engrossaram a luta, e paralisaram 90% das empresas, sendo 100% na antiga CMTC.

Mais conquistas e enfrentamento

Na campanha salarial de 1989, a categoria conquistou o direito a uma jornada de 40 horas semanais; reajuste mensal, pelo índice do Dieese e ticket-refeição. Graças à pressão do sindicato cutista, a antiga CMTC e Transurb aceitaram as reivindicações e os salários dos motoristas tiveram um reajuste de 40,06% -- um dos maiores conquistados pelo movimento sindical na época.

Uma das lideranças que contribuiu para a realização destas conquistas foi o companheiro, Alcídio Gomes, assassinado em 1989, por funcionários de uma empresa de ônibus.

Mas as lutas não pararam aí. Em meados de 1990 e 1991, o Sindicato dos Motoristas organizou os trabalhadores que tomaram as ruas junto com outras categorias representativas, como bancários e metalúrgicos, em protesto contra a política econômica do então presidente Fernando Collor de Mello, que achatou os salários e piorou a vida dos trabalhadores.

Em meados de 1991, o sindicato organizou várias paralisações em defesa dos direitos, na gestão do então prefeito Paulo Maluf, que recebeu o apelido de “Ratuf”, conquistando benefícios sociais, como complementação do auxílio doença entre outros.

No início do governo de Marta Suplicy (2000/2004), os motoristas e cobradores também conquistaram: seguro de vida, plano de saúde, e a promessa de não demitir os cobradores devido à implantação da catraca eletrônica.

A verdade que querem esconder

O ciclo de conquistas dos trabalhadores começou a declinar a partir da mudança de diretoria. A partir de 2000, o Sindicato passou para as mãos da Força Sindical e hoje é filiado à nova Central Sindical dos Trabalhadores.

A onda de corrupção e desvios de dinheiro começou a aparecer em 12 de maio de 2003. Em entrevista à TV Globo, um ex-diretor do sindicato, Marco Antonio Coutinho, afirmou que havia um esquema em que empresários pagam até R$ 1 milhão a sindicalistas para a realização de greves. A partir daí, a casa caiu para a direção do Sindicato.

Em 19 de maio do mesmo ano, a Justiça determinou a prisão temporária contra 17 integrantes do sindicato dos motoristas e cobradores. A Polícia Federal prendeu o então presidente da entidade, Edivaldo Santiago, e outros sindicalistas -- acusados, entre outros crimes, de receber propina de empresários para incentivar a categoria a fazer paralisações. As greves seriam um meio de pressionar a prefeitura a conceder subsídios ou aumentar a tarifa do transporte.

Corrupção

Mais irregularidades: em 2 de junho, um laudo elaborado pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu (PR) e pelo promotor Silvio Marques, da Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo, afirmou que duas empresas de ônibus do empresário Baltazar José de Sousa (Viação Januária Ltda. e Viação Campo Limpo Ltda.) enviaram US$ 12 milhões (cerca de R$ 36 milhões) ao exterior, entre 1996 e 1997.

O grupo de viações pertencentes a Sousa, que já chegou a ter 61 empresas de ônibus espalhadas pelo país, deve R$ 259.501.437 ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Mas os sindicalistas envolvidos nos escândalos, principalmente Edivaldo, o então presidente, conseguiram se livrar da cadeia graças a ações impetradas na Justiça.

Continuidade no poder

Mesmo diante destes escândalos, que continuam mal esclarecidos e ainda os culpados estão impunes, a Direção do Sindicato dos Motoristas conseguiu “ganhar” misteriosamente a última eleição da direção, ocorrida em 2003.

O processo eleitoral foi marcado por ameaças e irregularidades. A CUT lançou uma Chapa de Oposição, encabeçada pelo motorista, João Delfino de Jesus (Coruja), que contabilizou dos 28 mil votos, 7.526, a Chapa 3 cerca de 1.000 e a Chapa da situação, ou da diretoria anterior, 15 mil.

Na época, a CUT questionou o pleito na Justiça, alegando, baseada em provas documentais, que houve fraude nas eleições. Mas mesmo assim, a Justiça de São Paulo concedeu a vitória. Neste ano (2008), estão previstas novas eleições.

A volta da ditadura



Hoje, os motoristas e cobradores de São Paulo vivem sob o domínio do medo e do silêncio. De acordo com relatos de funcionários, que não revelaram os nomes com medo de represálias, quando procuram o Sindicato para reclamar do abuso dos patrões, a resposta é a seguinte: “Você está empregado, esta reclamando do quê? Quer ser mandado embora?" Uma atitude absurda, em se tratando de uma entidade sindical que tem por princípio e, acima de tudo dever, defender os interesses imediatos dos seus representados.



Vítimas da represália, os funcionários convivem com jornadas de trabalho estafantes, baixos salários e condições precárias de trabalho, ou seja, seus direitos são violados diariamente.

Questionados sobre a época da gestão da CUT, alguns até se emocionam: “éramos felizes e não sabíamos”, finaliza.

Dirigentes de luta

Nesta longa história dos motoristas de São Paulo, alguns dirigentes merecem respeito pela luta e participação no movimento de oposição da CUT em defesa dos direitos dos trabalhadores. São eles: Marta Carlota de Oliveira, Geraldo Antonio de Souza (Geraldinho), Rubens Fernando Gil (Jovem), João Delfino de Jesus (Coruja), José de Souza Nogueira e entre outros que deram suas contribuições.

Cronologia histórica

1933 - É fundado por 37 operários motoristas o Sindicato de Transporte de São Paulo, sendo eleita à diretoria com mandato de três anos e para presidente, Nicola Capucci.

1935 – Foi eleito presidente do Sindicato, Manoel Vieira, que liderou a primeira grande greve. Mesmo com a prisão de vários trabalhadores a categoria saiu vitoriosa desde movimento grevista. No mesmo ano foi eleito o presidente Armando Affonso Costa.

1937 – O Sindicato passa a ser conduzido por uma Junta Governativa sob o comando de Guilherme Mesquita. Depois de muita luta, a categoria volta a eleger uma nova diretoria sob o comando de Antônio Sorrentino, que ficou apenas 8 meses no cargo.

1943 – O primeiro dissídio coletivo de trabalho é conquistado, em 21 de setembro é publicada a primeira edição do jornal “O Veículo” 1944 – O Sindicato é comandado por Álvaro Gonçalves Caçador até 1955, e depois sucedido por Guido Bonafé.

1957 – O Ministério do Trabalho determina novas eleições, obtendo vitória a Chapa de Cneu Dantas, que foi destituído do cargo em 1958.

1958 – Cneu Dantas dá a volta por cima, retorna a presidência do Sindicato por mais dois mandatos consecutivos. Foi um período marcado por inúmeras greves nas empresas de ônibus da capital, por melhores condições de trabalho e salário.

1964 – Com o Golpe Militar, o Sindicato não tem registros documentados, foi uma fase difícil para o Sindicato dos Motoristas de São Paulo, a entidade sofreu mais de três intervenções do Governo Militar.

1979 – Uma assembléia histórica na Igreja de São João, no bairro do Brás, com a categoria aprovando uma greve geral de dois dias, inaugurando um novo período passando a lutar pelas seguintes reivindicações: convocação de eleição direta pela Entidade; piso salarial; oficialização do passe livre; reposição de perdas salariais da inflação manipulada desde 73 e contra o desconto da antecipação negociada pela Junta Governativa. O movimento sai vitorioso com o reajuste salarial de 174%. Ainda em 1979, é realizada a eleição para renovar a direção do Sindicato. A Chapa Encabeçada por Ivan Gutierrez do Partidão (PCB) assume a Entidade.

1980 – É fundada a União dos Aposentados dos Trabalhadores em Transporte do Estado de São Paulo, tendo como seu primeiro presidente Luiz Honorato.

1988 à 1989 - O Sindicato foi dirigido pela Central Única dos Trabalhadores

Fonte: Livro “Nossa Vida: Nossa Luta 1989/1991; folha online janeiro a junho de 2003 – redação Viviane Barbosa.

Marcos Antonio (Jornalista On-line) E-mail : macg.psb@bol.com.br
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