O pau que dá em chico dá em Francisco...

Oposição enfrenta até a Polícia para fazer campanha.


Que os anos 60 e 70 foram difíceis para a oposição no Brasil é fato conhecido. Mas, especialmente na década de 70, sob o comando de Ulysses Guimarães, a Oposição tornou-se mais ativa e corajosa. Nas campanhas eleitorais, principalmente, os desafios cresciam diante de toda sorte de dificuldades criadas.
Um desses episódios ocorreu na Bahia, ainda no início da campanha, mas serviu para encorajar a oposição. Às 19h00mn de um sábado, 16 de maio de 1978, no “hall” do Hotel Praia-Mar, em Salvador, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Roberto Saturnino e Freitas Nobre que tinham se deslocado para um ato político-eleitoral do MDB, uma informação surpreendente: a polícia militar cercara toda Praça do Campo Grande e comunicou oficialmente ao Partido que não permiti riria a reunião para o lançamento das candidaturas da Oposição ao Senado.

“Mas isto é ilegal, reagiram às lideranças. A portaria do Ministério da Justiça proíbe concentrações em praça pública, não em recinto fechado. A sede do Partido é inviolável.”

Depois das indignações e surpresa, Ulysses levantou-se e afirmou:

- Vou entrar de qualquer jeito. Vamos entra. É uma arbitrariedade sem limites.

O grupo saiu em vários automóveis, incluindo jornalistas e foi marcado um encontro na frente do teatro Carlos Gomes, do outro lado da sede do MDB. A praça parecia um campo de batalha: 500 homens de fuzil com baioneta, 28 caminhões-transportes, dezenas de patrulhas lança-chamas e grossas cordas amarradas nos coqueiros em torno de toda praça. Ulysses olhou, meditou e comandou:
- Vamos rápido, sem conversar.

Avançou e atrás dele Tancredo, Saturnino e a mulher, Freitas Nobre, Rômulo de Almeida, Newton Macedo e Hermógenes Príncipe (candidatos do MDB ao Senado), deputados Nei Ferreira, Henrique Cardoso, Roque Aras, Clodoaldo Campos, Aristeu Nogueira, Tarcilo Vieira, Domingos Leonelli, vereador Marcelo Cordeiro, Nestor Duarte Neto, jornalistas. Havia uma cerca de fuzis e soldados impávidos e quando o grupo se aproximou, um oficial gritou:
- Parem. Parem.

Ulysses levantou o braço e gritou mais alto:

- Respeitem o presidente da Oposição.

Meteu a mão no cano de um fuzil, jogou para o lado, atravessou. Tancredo meteu o braço em outro e passou. O grupo foi em frente. Três imensos cães negros altam sobre Ulysses, Freitas Nobre dá um pontapé na boca de um, Rômulo Almeida defende-se de outro. Estavam todos na porta, entraram aos tombos. Ulysses sobe à janela, liga os alto-falantes para a praça:

- Soldados da minha pátria, baionetas não é voto, cachorro não é urna!

Era o comício que não tinha sido planejado: 14 discursos e uma passeata. Tudo graças à batalha de Itararé na Bahia, segundo relato de Sebastião Nery para Folha de S. Pauloem maio de 1978.

Marcos Antônio (Jornalista On-line) /SP // Correspondente do rádio jornal de Itabuna. Tabocas noticias / Bahia. Contato: R. Dr. Queiroz Aranha, - V. Mariana. Fone: (11) 6241- 0321 E-mail: macg.psb@bol.com.br http://www.marcosantonio50.blogspot.com

1 comentários:

Marcos Antônio Coutinho disse...

Neste ano se realizavam eleições para renovação do congresso e o governo Geisel estava empenhado em recuperar-se da derrota sofrida quatro anos antes, quando as eleições parlamentares, especialmente para o Senado fortaleceram o MDB. Além do empenho pessoal do Presidente, o Pacote de Abril editado um ano antes, mudando regras eleitorais, complicava ainda mais o trabalho da Oposição. O governo acenava com uma abertura e discussão de um projeto de anistia, mas usava todos os recursos para não sofre mais revezes.

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